domingo, 5 de dezembro de 2010

CONEXÃO





Música vem de cima.
Literatura vem de baixo.









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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FALAR DE AMOR COM A EX-NAMORADA



Oi...

Fiquei instigado pelo nosso começo de papo, na internet, sobre namoros.

Acho mesmo que esse assunto é sem fim e que a gente só vai conseguir brincar de falar disso quando for pessoalmente mesmo.

Ainda assim, fiquei com vontade de fazer uns comentários iniciais.


Tipo assim:

a gente concorda que monogamia é uma opção. Uma opção racional, consciente, podemos até chamar de "madura" se quisermos.

Mas será que namoro tem a ver com razão, consciência ou maturidade?

Pensa só: sendo consciente, racional e tudo mais, seria uma tremenda besteira namorar alguém de nível social ou cultural muito diferente do meu. Sim, ainda que você não curta o exemplo da grana, entende a idéia: é muito mais fácil eu conviver bem com alguém que tenha valores e experiências parecidos com os meus.

E aí? Será que a gente escolhe quem vai namorar? Certamente pode escolher. Mas a gente escolhe de quem gosta? Acho que não.

Outro dia, eu estava conversando com um grande amigo. Ele me levou a pensar sobre uma relação que tenho há muito tempo. Vou falar dela porque tem tudo a ver com nosso assunto.

Tenho uma amiga que me acompanha há quase dez anos. Ela é paulista, mora em Sampa. Ao longo desses anos, tirando uma média, se nos vimos pessoalmente três vezes por ano foi muito.

Quando nos vemos, normalmente a gente fica, transa, até já dormiu juntos algumas vezes. Ainda assim, é uma das pessoas mais próximas que tenho. Falo com ela direto e somos um para o outro grandes companhias quando estamos tristes, em crise ou algo assim.

Ao longo desses dez anos, já namoramos terceiros. Quando estamos comprometidos, não ficamos um com o outro. Quando terminamos nossos namoros, voltamos a ficar.

Eu amo essa minha amiga. Ela sabe disso. E eu sei que ela me ama. Dizemos isso um ao outro o tempo inteiro, e já tive oportunidade de contar com esse amor em certos momentos de necessidade.

Quando estou solteiro, ninguém me condena por amar essa amiga. Ou por amar você. Ou quem quer que seja.

Solteiro, estou livre para amar e espalhar meu amor por toda parte.

Já quando estou namorando alguém, só posso amar minha namorada. Às vezes preciso até dizer às namoradas que já deixei de amar a namorada anterior. Isso as deixa mais tranqüilas. De quê, eu não sei.

Agora vê: eu e você temos uma relação de evidentes e notórios carinho, afeto, eu diria até amor mesmo, sem nenhum exagero.

Eu amo você, mulher.

Agora imagina: se eu estivesse namorando com você, como você se sentiria se eu dissesse que amo essa minha amiga, com quem de vez em quando me encontro de maneira CARNAL?

Sendo racional, você certamente compreenderia que é sem nenhum sentido a idéia de que DEVEMOS amar apenas uma pessoa de cada vez. Mas será que você seguraria essa onda?

Em caso afirmativo, mais uma vez, você é uma belíssima exceção. Em caso negativo, nada demais: apenas mais um exemplo do grande equívoco que eu vejo nisso que a gente normalmente chama de "amor".

Amor, acho eu, não tem absolutamente nada a ver com "relação". Posso namorar alguém por pura carência. Ou por comodidade. Ou por vaidade. Posso namorar alguém apenas para provar a mim mesmo que sou digno de ser amado.

Por outro lado, se eu amo você, não vai ser o fim de um namoro que vai mudar isso. Porque se uma "decepção" qualquer acaba com o amor, convenhamos que aquilo nunca foi amor.

Entende? Eu até acho legítimo que algumas pessoas se sacrifiquem tentando encaixar seus sentimentos em uma fórmula de relação que não é nem universal. Em vários países e culturas, um homem pode ter quantas mulheres puder sustentar e agradar. E nesses países, a mulher pode trocar o harém de um homem pelo de outro.

Então convenhamos que não há nada de "natural" no "namoro" ou na "monogamia". Agora: sem dúvida, parece que algumas pessoas SENTEM de maneira apropriada a essa fórmula. Se fosse meu caso, eu nem precisaria pensar no assunto.

Mas não é.

Além disso, quanto à "vantagem" de abrir mão de tudo e focar no namoro, acho isso tudo bem relativo. Já vivi solidão a dois e já vivi a plenitude sozinho. Já namorei sem nenhuma paixão, apenas porque todo o resto tinha a ver, e isso acabou parecendo uma pequena morte. Como se eu, por medo da vida, optasse por ficar quieto em uma história mais ou menos, mas que pelo menos era real. "Melhor do que nada", eu diria ali.

Conversando com esse meu grande amigo, vi que já tenho em minha vida algumas poucas (poucas mesmo) e ótimas amizades, algumas várias ótimas parceiras sexuais, além de ter, dentro de mim, a certeza de que esse vazio que eu e todo mundo sentimos no peito só pode ser preenchido por mim mesmo.

Sempre que eu tentar preencher esse vazio com outro ser humano, que posso chamar de namorada, estarei apenas adiando o momento do término. Porque não há mulher nenhuma no mundo que seja "metade de mim". Mulheres são seres inteiros, assim como homens. Todos imperfeitos, cheios de carências, mas, ainda assim, pessoas inteiras.

Entende de leve o pobrema todo? Esse não é nem de longe um assunto simples.

Por enquanto, estou solteiro. No momento, não consigo acreditar na fórmula do namoro. Posso mudar de idéia. E não, não desisti de tentar. Mas como já acumulei alguma experiência, em certas ciladas não caio mais.

Digaí.


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