sexta-feira, 9 de abril de 2010

ESTRÉIA SOBRE A CEGUEIRA


Desde que os meios de comunicação encontraram o grande filão da civilização maia, em relação ao vindouro ano de 2012, virou moda falarmos de coisas que, até então, eram papo de maluco, de místico, de religioso.

Há quem creia ou mesmo diga que vive na prática esferas da existência para além da material. Há quem negue tudo isso veementemente e diga que vive aqui, neste mundo aqui, lidando com as coisas daqui.

Eu, pessoalmente, acredito poder resumir a questão ao seguinte:

pensem em uma pedra de gelo.

O gelo, como sabemos, é um estado condensado da água. Analisando uma pedra de gelo, colocada sobre uma mesa, veremos que há ali um corpo sólido, do qual mina água em estado líquido, além de todo o vapor que podemos enxergar.

Olhando uma pedra de gelo, flagramos ao mesmo tempo três estados da matéria.

Se olharmos com pressa, veremos apenas o sólido. Com mais atenção, notamos a água que escorre da pedra. Com ainda mais dedicação, veremos o vapor subindo.

Podemos falar sobre o mundo partindo do etéreo ou do concreto. Em ambos os casos, estaremos tratando de estados físicos das mesmas substâncias, forças e energias.

Compreendo que, para o homem comum, ainda que ele enxergue o mundo e lhe atribua significado usando algo que não é concreto - a consciência - seja mais fácil falar sobre o que se pega com a mão.

É a partir daí que venho à máquina e exponho claramente uma situação bastante palpável: estou falando sobre a sua vida.

Sim, a sua vida. A minha e a sua.

Eu poderia aqui dissertar sobre a imensa nuvem negra que muitos sentem sobre a cidade, sobre o estado, sobre o planeta. Poderia falar sobre o nível geral de agressividade, que sobe dia a dia, incentivado pelos discursos que nos chegam pelos sete buracos da cabeça.

Trazendo o mundo mais para perto, porém, quero deixar registrado o seguinte, a fim de que a posteridade encontre essas idéias ordenadas e que as pessoas possam ter alguma fonte de informação, de raciocínio, que não esteja comprometida com nenhum interesse escuso:

no Rio de Janeiro,

na segunda-feira à noite, quando a chuva começou a cair fortemente, eu estava no Maracanã, o palco da Copa, das Olimpíadas, atrativo de tantos 'investimentos'.

Fiquei ilhado na passarela do metrô.

Resolvi então pegar o metrô. Única alternativa. Encontrei ali a maior fila que já vi na vida.

Depois de horas, cheguei ao guichê. Dos DEZ que havia ali, apenas UM estava funcionando.

Ao mesmo tempo, havia mais de dez seguranças patrimoniais no local, garantindo que ninguém borrasse a maquiagem do metrô.

Fica clara a visão que esses caras têm do serviço que prestam?

Havia um caos, sim, mas não era causado pela chuva.

Outro dia, todos viram funcionários da Supervia CHICOTEANDO os cidadãos que tentavam embarcar nos trens sub-humanos da Supervia.

Agora, o governador Sérgio Cabral Filho renovou o contrato com a Supervia. DOZE anos antes do previsto.

Quando houve aquela palhaçada manipuladora do petróleo, o argumento "do Rio" para ficar com a grana foi "respeito aos contratos assinados". Ou seja: não existe NADA mais importante para esses canalhas do que as negociatas que travam entre si.

Agora o Rio veio abaixo. E tanto o governador quanto o prefeito Eduardo Paes e a Globo culpam a NATUREZA pelo estado do local.

E mais: em relação a Niterói, a Globo foca no prefeito (do PDT). Em relação ao Rio, tenta jogar a 'culpa' para o governo federal. Como se não tivéssemos prefeito e governador.

Francamente? Não consigo me ocupar de temas mais amplos. Digo isso tranqüilamente, sem embates. O fato é que estou vendo todo mundo cego demais. Acostumado demais a ser tratado como bichos.

Acho que devíamos começar pela nossa rua, pelo caminho de casa até o trabalho... Depois de recuperarmos nosso caráter de seres humanos, aí sim, poderíamos teorizar.

Obrigado e não me levem a mal. Estou tentando com afinco separar meu karma do karma coletivo.

Por enquanto, o que faço é sentar no morro da Mangueira (palco da tragédia) e escrever um livro sobre Agenda 21 para crianças pobres.

Quem sabe se, traçando uma trajetória inversa à desses bandidos, a vida me aponta um caminho distante deles?

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4 comentários:

Chris disse...

Eu acho que tu não corres o risco de percorrer o mesmo caminho que estes caras...parto do princípio simples e básico das coisas que tu queres para a tua vida, quais são os teus valores...pelo que percebi, pelo pouco que li de teus textos, tua busca e teus prazeres são outros bem diferentes dos destes caras que estão jogando e dando as cartas por ai...

Flavia C. disse...

Creia: risco zero de percorrer os mesmos caminhos imundos. Na minha cabecita, ou um homem presta, ou não presta, c'est ça.

Carlos Jazzmo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Jazzmo disse...

espero que vocês estejam certas.

tomo toda a positividade de vocês para mim e a devolvo com meu mais sincero e profundo sorriso.

: )

(errei no português e reescrevi meu próprio comentário. é a força do sorriso).