quarta-feira, 24 de março de 2010
"COMO POSSO SEGUIR ADIANTE, SE NÃO SEI EM QUE DIREÇÃO ESTOU INDO?"
Às vezes olhamos para trás e concluímos que certas passagens de nossas vidas foram realmente clássicos, determinantes de tudo o que se passou depois.
Normalmente, vivemos distraídos da vida, focados em eventos microscópicos, digladiando-nos com inimigos insignificantes, obcecados com resultados que, por mais que nos elevem o ego por um instante, dissolvem-se na estrada da vida como a mais fina e desconsiderável poeira.
Perdemos tempo com tantas besteiras e depois concluímos que a vida passou diante de nós.
O grande John Lennon, "some kind of druid dude lifting the veil", como se auto-intitulou na bela e significativa canção "Mind Games", já disse certa vez:
"a vida é o que acontece enquanto você está ocupado, fazendo planos".
Esse é o espírito.
Este ano, estive na Amazônia. Voltei desnorteado. Agora escrevi uma carta a uma prima, filha do tio-avô que me recebeu de braços abertos no meio da selva.
"Oi, querida!
Não se preocupe com a "demora" do e-mail. Estou agitando mil coisas ao mesmo tempo e nenhuma ansiedade decorreu dessa demora. Até porque estou falando de um assunto bem sério, de uma vida inteira. Não esperava resolver nada de sopetão. Fique realmente tranqüila. Adoro você e continuo adorando todos os nossos contatos.
Mas a questão é a seguinte: estou realmente pensando em abandonar a vida de cidade grande. Hoje em dia, tem muito poucas coisas materiais que me interessam. Preciso ter um teto, preciso de NATUREZA POR PERTO, preciso de calma, preciso comer o mínimo para me manter de pé e GOSTO MUITO apenas de internet, de uma TV com os canais básicos (nem assino mais a NET), um fuminho básico e na hora certa (que pretendo aprender a plantar, para não depender de ninguém)...
Nada além disso. Nada mesmo. O que vai além disso é minha arte, que vou continuar a compor, escrever, cantar, tocar, fotografar etc. pela vida toda. Pretendo inclusive aprender a plantar uma hortinha. Não quero depender do mundo para me alimentar. Quero depender da terra, que é como as coisas realmente são. Não foi nenhuma empresa que me trouxe à vida e não quero mais ter de sustentar empresas para me manter vivo. Cansei.
Uma primeira idéia que me ocorre é fazer um concurso qualquer e pedir transferência para o interior (ou para alguma praia). Ainda não seria o ideal, porque não acho tão boa a idéia de passar a vida amarrado a um compromisso no qual não acredito. Tanto menos quando o dinheiro viria dos cofres públicos. Não simpatizo muito com a idéia de mamar nas tetas do governo. Mas por enquanto é a primeira opção que me ocorre.
Agora me mudei para o Rio de Janeiro mais uma vez. São Paulo se mostrou "pesada" demais para mim, principalmente depois de ter voltado da Amazônia. O choque foi grande demais. Vi que aquilo, a cidade daquele tamanho, com tantas coisas atreladas, com tantos atravessadores e intermediários em tudo o que você quer fazer, com tantas leis mentirosas, com tanto jogo sujo entre política e empresas, com tanta mídia mentindo e tentando fazer o caos parecer mais bonito, não é vida para mim.
Então o que acontece é isso: estou pensando profundamente nisso tudo. Talvez fosse bom voltar a Uarini e trocar umas idéias com o tio Manoel. Fiquei realmente apaixonado por ele (no melhor sentido, é claro, quase que como NETO dele) e queria muito ouvir o que ele pensa.
Agora estou completamente duro, mas pretendo juntar uma grana e tentar voltar lá em breve. Talvez ainda este ano. Por mim, não fossem compromissos de trabalho, eu voltaria lá agora. Voltaria hoje. A mochila eu faço em cinco minutos.
Ainda falando sobre trabalho, te conto que continuo trabalhando com texto. Agora voltei a trabalhar na Mangueira. Lembra que comentei com você sobre a Mangueira? Então. Voltei para lá. Estou novamente trabalhando com educação pública, algo que me dá um prazer bem grande. Eu escrevo aulas. Ajudo os professores a passar o conteúdo pra galera. É uma universidade a distância. Ligada à UAB (Universidade Aberta do Brasil). É um projeto do saudoso Darcy Ribeiro. Atende ao país todo.
(trecho com informações familiares sigilosas)
Mas é isso. Obrigado mesmo por responder. Estou aqui com um milhão de pensamentos, mas estou com um clima bem legal. Quanto a isso, fique tranqüila. Felizmente, já consigo separar bastante as coisas todas. Não é o fato de eu estar paupérrimo, por exemplo, que vai me impedir de ir à praia, namorar e ser feliz. Só estou filtrando e separando o que vale a pena e o que não vale a pena.
Um enorme beijo. Estamos aqui.
Carlos Gustavo".
O título do texto foi retirado da canção "How?", de John Lennon.
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