domingo, 21 de março de 2010

O SEXO DO RAIO X


- ...já não creio em nada disso.

- mas então de que forma a coisa mudaria?

- de dentro para fora.

- hum. entendi.

Captei a frustração.

- que foi? esperava que eu dissesse o quê?

- nada. é que não acredito em nada de dentro para fora.

- hahaha. vou adorar ouvir sobre isso.

- acho que é tudo socialmente construído. tudo de fora para dentro.

Silenciei e sorri. Olhei para baixo, traguei longamente, enchi os pulmões, prendi, sorri mais uma vez. Ela reagiu.

- hum, em que você está pensando?

- ...

- que eu sou o seu oposto, não é?

- exatamente. a palavra é "oposto". mas acontece o seguinte: diferente da sua idéia de que tudo é construído, e segundo a qual a chamada realidade pessoal será também fruto de construção, algo que pressupõe e até incentiva o conflito diário, material, a fim de livrar o homem da realidade anterior que o aprisiona, eu não acredito mais em choque.

- não acredita em choque?

- não. hoje eu vejo opostos como peças que se encaixam perfeitamente. não vejo choque; vejo complemento.


Momentos depois, após algumas boas variações, surgia um nítido movimento físico de gangorra que se repetiu por várias investidas suadas, com banhos frios e quentes nos intervalos, até que ambos caíssem em êxtase e dormissem abraçados, sem que ninguém precisasse propor.

Separados, tudo parecia a mais pura incompletude.


Toda hora comento aqui, direta ou indiretamente, sobre minhas práticas diárias, sobre minhas teorias, observações, dúvidas e sacações.

É bem claro em mim o tipo de objetivo que pretendo alcançar com isso tudo: nada ligado a status ou a algo que melhore minha própria vida em termos práticos.

Felizmente, consegui chegar a um ponto em que, materialmente, tudo de que realmente preciso é uma cobertura física contra intempéries e um mínimo de alimento e água, apenas a fim de que meu corpo não caia pelo chão como um saco vazio.

Para além disso, tudo o mais é paisagem. Tudo além disso é turismo.

Quando me mudei para o Rio desta vez, estava a um pequeno passo de me unir de forma mais ampla a um certo grupo de monges hindus, herdeiros das idéias do grande e bom Sri Anandamurti. Mantenho com um deles, até agora, uma boa conversa por e-mail. Cada um dedicado a seus afazeres, mas tentando a todo custo perceber a brecha certa para que nos encontremos mais uma vez.

Herdeiros das idéias. Idéias que me surgiram espontaneamente e que, tempos depois, foram sendo repercutidas por um amigo que, um por vez, me encaminhava textos do velho sábio, mostrando que alguém, muito tempo atrás, havia dito as mesmas coisas que eu.

Sempre que decido pôr algo para fora, em palavras, hesito severamente. Penso que talvez seja tudo compreendido como piada, penso que talvez seja entendido como doideira ou mesmo pura exibição estética, em uma época em que as coisas param na forma e ninguém dá por falta do conteúdo... Penso, penso e acabo pensando bastante a cada linha.

Não sei se o que digo ou vivo e passo adiante pode realmente ajudar os demais. Não sei em que ponto de suas auto-descobertas estarão os amigos. É bem freqüente a impressão de que falo sobre temas abstratos demais.

Sendo assim, desta vez, desço à Terra por alguns instantes e toco em um ponto sensível. Talvez, fazendo a coisa como ofereço a seguir, por mais que esteja indicando aqui um caminho torto, eu possa ajudar a quem quer ou acredita que quer ser ajudado.

Ajudado em quê? Na dura tarefa de adaptar-se a um mundo... irregular e, além disso, semear por aí algo que aponte para um futuro melhor - para si mesmo e para todos os que estão em volta.

Desta forma, sem me alongar mais do que já fiz, saibam todos:

concentração, meditação, foco, compaixão, o olhar atento sobre si, sobre os outros e sobre todas as coisas...

reflete-se diretamente no sexo.

Sim, reflete-se diretamente no ato sexual.

Como? De que forma? O que passa a acontecer?

Bem, siga o caminho e veja por si só.

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