domingo, 19 de setembro de 2010

POLÍTICA?


Você vota para presidente de banco?

Você vota para diretor de telejornal?


Não adentremos qualquer metafísica. Somos corpo e mente.

Somos corpo e mente.


No mundo em que vivemos, o corpo é alimentado com dinheiro.

Somos ainda seres dependentes do sol, da água, de tudo o que sempre dependemos, mas hoje tudo se compra com essas fichinhas, o chamado dinheiro.

Seja ele um pedaço de papel ou um número de créditos em uma conta.

Hoje é tudo indireto, cheio de intermediários. Quer ir à praia? Contrate uma agência de viagens, isso, aquilo, aquilo outro, pague a passagem, o hotel, alugue a cadeira e sente-se de frente para o mar.

Não vá à praia da sua cidade. Não more na praia. Isso: não more na praia.


No mundo em que vivemos, essas fichinhas estão nas mãos do presidente do banco, cuja escolha ou direcionamento não depende de você.

Sem essas fichinhas, você não joga no mundo da matéria.


No mundo em que vivemos, a mente é alimentada pelos meios de comunicação.


Além da escola, que, sabemos, é cada vez mais precária e destinada a formar técnicos, é através da famosa mídia (do latim 'media' = meios, acrescido do sotaque anglo-americano, que transforma o 'e' em 'i') que se forma nosso discurso.

Se hoje você conversa comigo sobre o presidente da República, sobre o furo na meia dele, e não sobre a girafa que faleceu em Botswana, é porque você assistiu ao assunto no telejornal.


Essa escolha, essa eleição de quais assuntos ocuparão a sua mente e quais assuntos passarão despercebidos, não passa pelo seu voto.


Até ontem, havia ainda o paliativo de que eram profissionais em jornalismo que cuidavam disso. Era como os ainda citados "especialistas", que servem para embasar qualquer discurso conveniente. Até ontem, eram "especialistas" que cuidavam das notícias. Agora isso caiu também. De qualquer forma, era apenas uma ilusão.

Hoje, no mundo em que vivemos, o presidente da empresa escolhe o presidente do telejornal. Esse seleciona segundo os critérios que quiser, afinal, tratamos aqui de uma empresa "livre", que pode usar termos como "qualidade", "imparcialidade" e outros com o mesmo vazio de sentido que qualquer outra usaria.

Essa eleição, essa seleção de assuntos, de enfoques, de opiniões de "especialistas" escolhidos a dedo por suas próprias opiniões convenientes, não depende de você.


Nesse sentido, sim, sua única margem de manobra é, na prática, o controle remoto, é claro. Pense, no entanto, que vivemos uma realidade onde cada vez menos gente controla esses meios de comunicação. Sendo bem pragmático, no Brasil, existe uma empresa de comunicação que concentra, sozinha, cerca de 80% da publicidade nacional.

Oitenta porcento.

O resto é concorrência.


No âmbito internacional, a situação não difere tanto, guardadas as devidas proporções: duas ou três agências de notícias difundem pelo planeta sua visão bastante particular da realidade. Quando a notícia é veiculada, já em um nível mais local, como o brasileiro, há empresas dessas que têm contratos de exclusividade de conteúdo. Sim, se você reproduz uma matéria vinda de uma dessas agências, nesse caso, você não pode alterar uma vírgula. Você, "especialista", pode apenas traduzir o que veio pronto.

O resto é concorrência.


Muito bem: no mundo em que vivemos, o que é arte ou ficção fica compartimentado no setor do entretenimento.

No mundo em que vivemos, o que é fato, notícia, fica compartimentado no setor do jornalismo.


Ligue a sua TV no horário do seu telejornal favorito.

Quem é o patrocinador?

É um banco.


Partidos políticos são órgãos transplantados ao seio da sociedade. Certos órgãos são aceitos, outros são rejeitados sistematicamente. Quem dita a fisiologia desse organismo são justamente a cabeça e o coração.

Ou a cabeça e o bolso, como os próprios teóricos da modernidade dizem sem o menor pudor.

Política? Passo (mal).



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3 comentários:

Flavia C. disse...

Passamos nós. Hoje eu ia brincando de #quandotinhadezanos no Twitter e por um triz não escrevi que, naquele tempo, tinha um interesse muito maior por processos eleitorais do que agora. Achei quase doloroso contar aos quatro cantos que, ao fim e ao cabo, hoje vejo que a discussão política virou campo exclusivo dos inocentes úteis e dos condutores destes. Pode parecer desencanto, e se for, é quase como aprender a separar enredos de fábula da realidade.
Belo texto, como sempre.

Carlos Jazzmo disse...

...e eu assino embaixo do seu.

Carlos Jazzmo disse...

Sim, caro Ministério,

a doação de órgãos é a salvação de alguém que passou por uma tragédia.

Fica aí o comentário e o incentivo a que todos se declarem doadores.

Fica ainda o desejo de que o serviço PÚBLICO de saúde no Brasil atinja um grau mínimo de decência e universalidade.

Mas isso eu sei que é pedir demais. Talvez quando os ministros não se importarem tanto com os donos de laboratórios particulares - alguns deles até candidatos a presidente da República.

Por ora, fiquemos com a doação mesmo. Se o Estado não é capaz ou interessado em zelar de verdade pela saúde das pessoas, que pelo menos os indivíduos, particulares também, isoladamente, tenham alguma compaixão por seus semelhantes.

Esperar isso do Ministério eu sei que é perda de tempo.

Saudações e obrigado pela visita oficial.