sábado, 2 de outubro de 2010

O POVOADO DA MISSÃO DE TRÊS DE OUTUBRO





No meio da mata amazônica, você sabe que tem cidade por perto quando enxerga os urubus.

Eu vi.
Vi de cima da canoa.




À beira da Guanabara, você chega ao centro do povoado por baixo da terra, sem circulação artificial de ar, espremido entre o máximo de pessoas que os donos do campo de trabalhos forçados conseguirem enfiar para dentro do vagão.


Eu vivi.
Vivi debaixo do braço de um companheiro, com a coluna forçada, sem apoio, tentando compensar o jogo brusco do vagão.


Não há mais o que ser denunciado. Se a natureza humana se abre tanto para cima quanto para baixo, parece já ter sido cooptada por algo forte o suficiente para fazê-la rir-se de si mesma.


Assossegue-se: não há mais alarme a soar.

Nada vai mudar. E você não vai perceber que nada mudou, já que não sabe do que estou falando.

Eu vi.
De cima, de fora, de dentro, de perto...

Vi de longe.
Pude ver de longe.

Vi, senti e chorei.
Soei como mais um maluco.

Foi aí que refiz minhas malas.


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