sábado, 12 de dezembro de 2009

RESPEITO A NATUREZA


- mas você é de Sampa?

A pergunta já me soa estranha.

Existe um termo muito chique - sim, porque se algo neste planeta é chique, prefiro que sejam os franceses - que é o depayser.

Depayser = A. Transporter quelqu'un hors du pays, du lieu où il est ordinairement implanté. (Quasi-)synon. déraciner; anton. enraciner, rapatrier.=B. Changer le décor habituel ou les habitudes de quelque chose ou quelqu'un=C. Au fig. Déconcerter quelqu'un en le transportant dans un cadre inhabituel, en modifiant ses habitudes. (Quasi-)synon. dérouter, désorienter, égarer; anton. acclimater, familiariser. La vie du grand séminaire ne me dépaysa nullement. Elle était bien telle que je l'avais imaginée (BILLY, Introïbo, 1939, p. 38)

Em bom brasileiro, depayser é algo como desorientar-se territorialmente. Trocar tantas vezes de país que você perde as referências culturais, principalmente as que você associava ao que chamava de lar.

Ai lov Reeou, mas, sempre que volto ao Rio, sinto-me visitando algo que nem mesmo é real. Toda vez que volto à colorida Guanabara, sinto como se eu e todos que estão ali, há séculos, fôssemos meros coadjuvantes. O Rio é a prova concreta de que o ser humano é apenas algo que brotou sobre a crosta da Terra. Quase um mofo.

Palavra que eu curto. O mofo. É verde.

São Paulo já é diferente. São Paulo, vista de dentro, é o streaming e a engrenagem exposta. Vista de cima, são as veias saltadas da Terra, latejando brancas, vermelhas, amarelas e azuis.

Qualquer história vivida no Rio tem a cidade como protagonista.

Mas ela queria papo e perguntou se eu era de Sampa.

- mas você é de Sampa?

- não, eu nasci no Rio, mas estava morando em Brasília. Estou aqui há menos de um ano.

- ah, então a gente nem vai se conhecer... Que peninha.


- ...bom, eu não tenho raízes plantadas no chão, mas respeito a natureza.


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